terça-feira, 18 de agosto de 2015

Turismo, cultura e saúde

Conheça as 5 megatendências do turismo gastronômico mundial e os impactos na vida social, cultural e econômica que vêm de carona


Por Rogerio Ruschel (*)
Exclusivo – Entrevista com Luís Rasquilha. Meu prezado leitor ou leitora: para felicidade geral a gastronomia é cada vez mais valolrizada e está provocando uma verdadeira revolução econômica, social e cultural em todos os rincões do planeta. Na feira livre das ruas (ou dos rios, como na Tailândia, foto acima) e no cardápio dos restaurantes o ato de alimentar-se ganhou qualidade e hoje é uma mania que invadiu a midia: são chefs brilhando na televisão, cursos de culinária que atraem milhares de cozinheiros amadores (como os da foto abaixo), feiras de produtos orgânicos ou diferenciados, certificação de origem de alimentos e uma enorme onda de food-trucks e bike-trucks nas grandes cidades.
E o assunto está mais complexo porque cada comunidade pode ter sua própria atração alimentícia, como os famosos 2.500 tipos de queijos da França – que harmonizam com 2.500 tipos diferentes de vinhos, é claro....


Os brasileiros dos grandes centros urbanos já estão surfando nesta onda, comprando produtos importados, enchendo salas e cozinhas de cursos de culinária - e desta maneira descobrimos cada vez mais talentos. E só para lembrar dois dos nossos talentos brasileiros de exportação: Helena Rizzo, do Restaurante Mani, Melhor Chef Feminino da América Latina em 2013 e Melhor do Mundo em 2014 e Alex Atala, do do D.O.M. que está na lista dos 50 melhores do mundo desde 2006 e desde 2012 está sempre entre os 10 mais.

Pois é, a sofisticação da culinária está nas ruas, nas casas e isso evidentemente tem alta importância como elemento no turismo. Aliás, até o dia 18/setembro/2015 o Ministério do Turismo do Brasil estará recebendo propostas para divulgar destinos turísticos com ações que valorizem a gastronomia regional como o churrasco gaúcho da foto abaixo; os projetos selecionados poderão contar com um valor mínimo de R$ 100 mil e máximo de R$ 300 mil para sua realização – veja no site do Ministério.

O valor da gastronomia como atracão turística foi o foco do Congresso Internacional do Turismo de Alimentosrealizado de 8 a 11 de Abril de 2015 em Estoril, Portugal, no qual especialistas analisaram as tendências da cultura e do marketing do turismo de gastronomia, que tem crescido sem parar e que é tido como uma das grandes estrelas do turismo moderno, o turismo de experiências. Participaram do evento em Portugal pesquisadores, planejadores de turismo, chefs, cozinheiros, autoridades públicas, dirigentes de mídias e váriasentidades ligadas ao turismo de alimentos especialmente da França, Peru, Portugal e Espanha, países com reconhecido sucesso no assunto. O evento foi organizado pela Associação Portuguesa de Turismo e Economia da Culinária, que trabalha na construção de marca de Portugal como destino turístico de alimentos. A cozinha caipira mineira (foto abaixo) é tida como uma das melhores do Brasil.
Uma das mais concorridas apresentações foi sobre “As Cinco Mega-tendências do Turismo Gastonômico” feita pelo especialista brasileiro Luis Rasquilha, CEO da AYR Worldwide e Inova Business School sediadas em Campinas, São Paulo. Rasquilha é professor convidado em Universidades e Business Schools na Europa e Brasil e autor e co-autor de 20 livros técnicos sobre Marketing, Comunicação, Futuro, Tendências e Inovação. Para que você pudesse conhecer estas megatendencias de maneira exclusiva In Vino Viajas entrevistou o professor Luis Rasquilha. Veja a seguir. E por falar em concorrida, acredite: a foto abaixo mostra o movimento em uma Feira Gastronomica do Paço de Manaus…

R. Ruschel – Professor, quais são as cinco megatendências do turismo gastronômico?
Luis Rasquilha – Anote aí. 1. Envelhecimento da população e explosão demográfica. Mais pessoas estão vivendo mais; em 2050 haverá percentualmente mais pessoas com idade superior a 50 anos em uma população de quase 16 bilhões até 2100. Isso vai afetar significativamente nossas escolhas alimentares. 2. Globalização e Conectividade social. Atualmente apenas 20% da população mundial está conectada, mas em 2030, 50% estarão conectados e isso vai mudar a forma de procurar e informar-se sobre alimentos. Deve-se esperar mais aplicativos de internet para a entrega de alimentos, restaurantes e socialização. Na foto abaixo, frutos do mar em um restaurante de Alagoas.

3. Mudanças climáticas. O aumento da temperatura continuará a impactar nossos recursos naturais e a ênfase na sustentabilidade vai dominar a nossa abordagem também na alimentação. 4. Conectividade Intergeracional.Vamos ser definidos como nativos digitais (nascidos após 1990) ou imigrantes digitais (nascidos antes de 1990), com os membros mais jovens da sociedade dominante a influenciarem a forma como usamos a tecnologia para nos comunicarmos. Isto vai mudar tudo, inclusive nossas hábitos alimentares. 5. Saúde e Genética. Como as pessoas continuam a morar em grandes cidades, elas terão de lidar com a depressão, isolamento, obesidade e doenças relacionadas as questões urbanas, como a poluição, ameaças de segurança e falta de espaço. A solução estará na forma do que se pode chamar de fast-food saudável, praticar atividades esportivas e no desenvolvimento de novos medicamentos. Feira livres como essa da foto abaixo podem ajudar bastante na alimentação sadia.
R. Ruschel - Por que são megatendências? Luis Rasquilha - Por megatendências entendemos as transformações pelas quais o mundo passa e que alteram consideravelmente o status assumido. Estas 5 megatendências são hoje, a par de outras, relevantes para entender algumas das mudanças globais por que passamos. Não só as pessoas estão durando mais tempo como há mais gente no mundo e isso é interessante quando pensamos em dimensões de mercados. Também isso influencia o relacionamento entre gerações que cada dia está mais intenso. O avanço da tecnologia tem alargado a globalização e aumentado os índices de conectividade global, dando a oportunidade de maior circulação de conhecimento e maior interação entre pessoas. O ambiente tem sofrido mudanças permanentes e consideráveis alterando a forma como vivemos no globo. E por fim a saúde e a questão da genética também ten trazido descobertas impensáveis no passado sobre como viver melhor. Estas transformações impactam diretamente o negócio da alimentação seja em termos de comportamento seja em termos de negócio. (Food-truck é para os fracos – em Barcelona o negócio é Gourmet Bus…)
R. Ruschel – Quais são os benefícios do turismo de culinária?Luis Rasquilha - O turismo de culinária apresenta-se como uma excelente escolha para quem valoriza a questão cultural em viagens, sem perder uma descoberta gastronômica. Se para turistas é um atrativo fantástico, para os agentes do negócio é uma forma de ter mais clientes e explorar mercados até agora deixados em segundo plano. E está provada a sua importância para quem atua no turismo, seja restaurante, hotel, produtor, etc. Entender a especificidade do tema e a sua relevância à luz das tendências, ajudará quem atua neste negócio a melhorar as suas performances e no imite o seu negócio. Para quem viaja sem dúvida pode ser uma experiência inesquecivel. Na foto abaixo o professor Luis Rasquilha – que eu imagino que troque a gravata por um avental com mais frequência…
Um dos grandes temas que dominaram o Congresso Internacional do Turismo de Alimentos em Estoril, Portugal,foi a concordância com o fato de que no turismo de gastronomia o grande diferencial é contar histórias, o conhecido storytelling. Chefs, cozinheiros, jornalistas e blogueiros concordaram que o turismo gastronômico é o ambiente ideal para contar histórias de moradores, da comunidade local, de uma forma consciente e memorável, de relatar experiências de forma intimista para reviver as tradições culinárias de pessoas, comunidades e culturas – como os temperos da foto abaixo.
Concordo plenamente porque é contando histórias, e não apresentando dados sobre uvas, cor, sabor e técnicas de produção de vinhos que In Vino Viajas vem conquistando a atenção e a fidelidade de leitores de bom gosto: atualmente é o oitavo site de vinhos mais acessado no Brasil e o mais internacional de cultura do vinho da América Latina, com leitores em 126 paises. Contar histórias que valorizem o saber comunitário e seu estilo de comer, beber e viver é o caminho para ser local e ao mesmo tempo global. Brindo a isso!

Conheça a história de Ferran Adrià, um jovem pobre que transformou a culinária em arte, foi eleito o melhor chef do mundo 5 vezes e está melhorando nossas vidas; uma história de superação com 20 fotos sensacionais -http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/03/conheca-ferran-adria-o-lavador-de.html

(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas, adora gastronomia de qualidade mas não convide para cozinhar para você...

Um comentário:

  1. Maravilhosas informações, fotos fantásticas.Parabéns Rogério Ruschel, super compartilhado. No MBA em Hotelaria e Turismo que fiz, A & B e Turismo Comunitário Sustentável, foi o foco das minhas pesquisas, inquietações, publicações.

domingo, 11 de março de 2012

POR UM BRASIL LIMPO


     POR UM BRASIL LIMPO

Liliana Peixinho *

AÇÕES COTIDIANAS SIMPLES PARA REIVENTAR O MUNDO

O Movimento AMA/RAMA integrante de diversas redes como REBIA, Casas Amigas do Meio Ambiente, Amigas Marina Ambiente, Envolverde e REBEA,  articulador do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio + 20, vem a público socializar  manifestar seu interesse em atuar, apoiar, participar, fortalecer e apresentar propostas para as ações junto as organizações da sociedade civil e movimentosociais e populares de todo o Brasil e do mundo, para participar do processo de realização, em junho de 2012, da Cúpula dos Povos da Rio+20 por Justiça Social e Ambiental. Evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD). 


 CAMPANHA CONTRA O DESPERDICIO

Entre as propostas  do Movimento AMA e da RAMA estão as campanhas  DESPERDICIO ZERO = FOME ZERO, PACTO DAS DONAS DE CASA, EMPRESAS E INSTITUIÇÓES PARA COLETA SELETIVA DE RESIDUOS , ação proativa para o CONSUMO CONSCIENTE, ADOÇÃO DA CULTURA DOS 7Rs - Racionalizar, Reduzir, Repensar, Recriar, Reaproveitar, Repartir, Revolucionar e  LIXO ZERO = SANEAMENTO DEZ = SAUDE MIL . Todas com agregação em aproveitamento integral do alimentos/segurança alimentar, cultura de prevenção e construção de cadeias produtivas harmoniosas  sustentáveis de ponta a ponta, para o comércio justo, inclusão social e bem viver em harmonia com a matriz mãe: Natureza.

Histórico socioambiental mundial

Resgate feito por coletivos socioambientais revelam que há vinte anos, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92) e diversas outras conferências das Nações Unidas realizadas planeta afora para  discutir os problemas globais que afetam a humanidade, pactuaram uma série de propostas para enfrentá-los.     Convenções  sobre Mudanças Climáticas, Biodiversidade, Desertificação,  Agenda 21, Carta da Terra, Declaração sobre Florestas, Declaração de Durban são alguns desses macroeventos.  De um lado temos relatos históricos sobre a necessidade de reversão de problemas como:  miséria, injustiça social e degradação ambiental. 
Dados divulgados ao mundo mostram que sete bilhões de seres humanos vivem hoje as seqüelas da maior crise capitalista desde a de 1929. Vivemos o aumento gigantesco da desigualdade social e da pobreza extrema, com a fome afligindo diretamente um bilhão de pessoas. Presenciamos guerras e situações de violência endêmica e o crescimento do racismo e da xenofobia. 






O sistema de produção e consumo , representado pelas grandes corporações, mercados financeiros e  governos  asseguram a sua manutenção, produzem e aprofundam o aquecimento global e as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, a escassez de água potável, o aumento da desertificação dos solos e da acidificação dos mares, num modelo de produção perverso, excludente de direitos mínimos  consagrados, como comer, beber água limpa e morar com dignidade.

CULTURA DOS Rs 


O modelo de consumo desmedido, produção pela produção, com descartes e desperdícios,  alimenta cadeias desarmoniosas com a vida, explorando mão de obra no trabalho de mulheres, crianças, idosos e  setores mais vulneráveis.  Matrizes energéticas com  queima de combustíveis  fósseis, degradação de ecossistemas, agronegócio, exploração mineral e vegetal gerando commodities atreladas a metas de crescimento, à qualquer custo,  tem banalizado os valores da Vida.  Com essa visão transversal c coletivos como os Movimentos  AMA e RAMA acreditam que a Rio+20 é uma oportunidade para “reinventar o mundo”, apontando saídas simples, no cotidiano, para descasos, desmandos  e dores,  na luta pela sobrevivencia.






 CONSTRUINDO CADEIAS DE VALORES

Compartilhamos com valores coletivos para a construção de agenda onde a governança global democrática requer a mudança de modelo econômicos acomodados nas vantagens do lucro fácil e rápido, para outro, onde possa dar oportunidade de ação aos mais variados atores sociais ativos em redes e organizações não governamentais,  movimentos sociais de distintas áreas de atuação,  ambientalistas, trabalhadores/as rurais e urbanos, mulheres, juventude, movimentos populares, povos originários, etnias discriminadas, empreendedores da economia solidária, dentre outros, com demandas de apoio historicamente reprimidas em experiências de lutas.


Como coletivo pensamos que a Rio +20 poderá ser um importante ponto na trajetória das lutas globais 
por justiça social e ambiental. Ela se soma ao processo que estamos construindo desde a Rio-92 e, em especial, a partir de Seattle, FSM, Cochabamba e que inclui  lutas  históricas para potencialização e inclusão de quem trabalha para os que acumulam e não distribuem.   Os Movimentos  AMA e RAMA, no Nordeste, na Bahia, querem ajudar a  construir  processos abertos e transparentes de ações, em prol da Vida digna, como deve ser.

Liliana Peixinho  
Jornalista e ativista socioambiental
Fundadora dos Movimentos RAMA e
 AMA - Amigos do Meio Ambiente     
Facebook – Liliana Peixinho

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Êxodo ao Campo


                            
Liliana Peixinho*


                              Êxodo ao Campo

          A agricultura é um dos ganchos mais positivos que o Brasil tem, na atualidade, para fortalecer os seus argumentos junto aos financiadores internacionais. No entanto, parece que o governo ainda não deu a devida prioridade para o sério problema dos Sem Terra, Sem Teto, Sem Dinheiro, Sem Emprego e uns cem mais nomes que queiramos inventar para mostrar o processo de exclusão de milhões de brasileiros. Se temos muita terra fértil, sol, uma diversidade de recursos hídricos e disposição de sobra de milhões de brasileiros trabalhadores desempregados à procura de uma oportunidade para ajudar o Brasil a crescer, a mudar, por que o governo não leva isso à sério e começa, já, de imediato,  processo inverso do Êxodo Rural ?
    Por que o presidente Lula, que saiu de Pernambuco, cheio de esperança e soube, na prática, como foi duro resistir em São Paulo, não começa a chamar de volta, ao interior, ao campo, às terras férteis, longe dos concretos, das fumaças, da violência, da agonia, do faz de conta que vive, os milhões e milhões de brasileiros que já perderam a ilusão da cidade grande, da esperança de uma vida cheia de novas oportunidades, e que hoje vivem na exclusão, no completo abandono, na marginalidade, na falta de oportunidade de trabalho só causando mais problemas e engrossando a extensa bola de neve do sofrimento?
       É, assim como a campanha da Fome Zero o Brasil deveria começar a chamar de volta, dando atrativos de competitividade, é claro, aos milhões e milhões de nordestinos, por exemplo, que, no desemprego e na falta de justiça, acabam engrossando a onda de violência em um país que tudo para ser um paraíso. No mundo onde a qualidade de vida passa, prioritariamente por cuidados da saúde a partir da água, do ar e da qualidade dos alimentos, não seria difícil mobilizar a população para voltar às suas origens, com orgulho e reais oportunidades de levar o Brasil a um novo projeto de destaque na aldeia global. Lembro de pequenas cidades na França, na Itália, na Suíça, na Holanda, onde a população vive tão bem, com tanta qualidade de vida e perto do mundo, sem isolamento, com super mercado, internet, universidades e escolas de qualidade e tudo o que o mundo civilizado oferece à Humanidade.
       No Brasil, viver no campo ainda é sinônimo de atraso, de isolamento, de cafonice, de falar errado e pior de tudo, de passar fome a ponto de se viver à base de sopa de pedra, coisa do fim do mundo, de um mundo inaceitável. Como bem, disse o deputado Roberto Carlos, ao visitar um assentamento do MST em Santana do Brumado, município de  Casa Nova, não adiante o governo garantir só a terra, há de dar condições para morar, com dignidade, ter água para beber e regar a plantação e criar as condições de financiamento para a produção, com competitividade de mercado. Do contrário, daremos continuidade à velha história da cultura da subexistência, isso mesmo, uma sub existência, uma existência abaixo da desejada, da necessária, da digna, da que realmente esse povo sofrido e resistente merece ter.   Que novos ventos soprem a favor do Êxodo ao Campo, amém.   
  
Liliana Peixinho *Jornalista, Correspondente na Bahia do Jornal Folha do Meio Ambiente, autora de proposta para tese de mestrado sobre Mídia e Meio Ambiente, Coordenadora da RAMA - Rede de Articulação e Mobilização em Comunicação e Meio Ambiente, das Ongs Verde Limpo, AMA- Amigos do Meio Ambiente . Pós- graduanda em Turismo e Hotelaria da FABAC

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Paradoxo entre discurso midiático "sustentável" e realidade caótica focada pelo jornalismo investigativo

Por : Liliana Peixinho

Apesar da visibilidade midiática e da evolução do conceito: desenvolvimento sustentável, a realidade cotidiana demonstra, nos faz ver, perceber, sentir, registrar, que ações, de fato, sustentáveis, são difíceis de comprovar diante realidades diárias sobre a natureza, humana e ambiental, com outras faces, degradadas, violentadas, exploradas. A sustentabilidade existe sim, com muita ênfase, nos discursos, peças publicitárias, propagandas, falas de governo, empresas e ONGs, que souberam, estão sabendo, de forma competente e criativa, se apoderar do termo para surfar na onda do marketing verde vazio. Se dizem que fazem e não estão fazendo, concordo com o colega Andre Trigueiro, “temos obrigação diante do nosso papel de jornalistas, mostrar porque”. É objetivo desse artigo despertar a atenção sobre a forma como a mídia propaga, de forma massiva, o mais “famoso” dos novos paradigmas: a sustentabilidade. Nossa pesquisa é reforçada sobre imagens flagradas por jornalistas, no cotidiano brasileiro, mostrando quão distante anda o discurso, generalizado, da prática, onde o caos na saúde, educação, transportes, moradia atinge forte, a quem mais o governo diz estar dando atenção: classes pobres e médias.

Até onde, como e quando empresas/governos/educadores/cidadãos, estão realmente preocupadas com a preservação da Vida, na Terra? De que maneira surge, ou não, uma consciência interna, pessoal/profissional, de que cada ato pode favorecer ou prejudicar a preservação de recursos naturais vitais, como a água, alimento e ar? Em que nível de informação/formação as pessoas estão para saber que um ato aqui e ali, uma ponta de cigarro a mais, ou a menos, no ambiente, faz diferença sim no processo de condução para preservar a Vida? Qual pode ser o grau de satisfação, ou insatisfação, de cada pessoa/empresa, ao praticar um ato ambiental correto ou degradador? Até quando irá prevalecer a prática do “se todo mundo joga, eu também jogo, sujo, não faz diferença”. E, porque seria necessário reverter essa lógica, perversa? O caos nas emergências dos hospitais, o número diário de mortos por doenças preveníveis; o número de famílias desabrigadas dos inchaços urbanos desordenados, e casas deslizadas em terras frágeis, a cada nova chuva; o número de faculdades surgidas a cada semestre x o número de desempregados/recém-formados, que indicadores desses ai poderia mostrar o Brasil que se diz “sustentável”.











Monocultura, Commodities e fome interna









Matriz de produção predatória é paradoxal ao discurso do uso de matriz sustentável







Apesar do apelo ideológico, e do reforço diário do discurso da sustentabilidade, o conceito anda longe de práticas, ações, gestões, comportamentos, que levem sustentabilidade, harmonia, equilíbrio, entre o que, como, e quanto, se produz, na cadeia das atividades econômicas. Nesse contexto, como a Comunicação - Jornalismo, Publicidade, Redes Sociais, Listas de discussões, Grupos virtuais, blogs, sites - pode contribuir com informações, transversalizadas, contextualizadas historicosocialmente, para mostrar por que uma simples ponta de cigarro aqui, uma garrafa pet ali, uma latinha acolá, um projeto a mais alardeando-se sustentável, sem ser, faz sim, e muita, diferença, na construção de uma nova mentalidade, um novo jeito de pensar, fazer, se comportar, agir , mudar o que se mostra como necessário e urgente?



A Carta da Terra diz que “devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura de paz. E, que para chegar a esse propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações”. Nesse contexto, imperativo reforçarmos o saber como instrumento de construção, impulsão, para qualquer modelo, paradigma, jeito de viver, que reforce a condição humana como frágil, limitada, diante do poder da Natureza, onde tem facetas, climáticas, por exemplo, que a própria Ciência ainda ignora, desconhece? E, como a vida continua pautada no consumo, seja de idéias, fazeres e experiências, necessário e urgente se faz adotar políticas, práticas, que alimentem a cadeia de suprimentos, onde fornecedores, distribuidores, varejistas e consumidor final, estejam em harmonia, em sintonia, com as adaptações que o planeta, o ambiente, rural ou urbano, estar a nos exigir, para a garantia da Vida, em suas diversas formas.



Cotidiano mostra desespero de familiares com seus doentes, morrendo, do lado.



Fotos tiradas pela paciente Liliana Peixinho enquanto esteve internada por 2 dias na EMERGENCIA HRSantos -Cabula, Salvador, às 16.57 min de 12.09. 2011, depois de via crucis por diversas unidades públicas, antes da entrada no RS, onde saiu pior do que entrou. Veja cópias de fichas hospitalar, SAMU, Posto Pernambués e por ultimo HRSANTOS de onde saiu, sem alta, por total falta de tudo, inclusive espaço para entrar ou sair gente das ambulâncias. Deu receita porque não tinha remédios de emergência. Paciente falou que iria embora e saiu pior do que entrou. Ainda gastou o que não tinha, com ligações telefônicas e transporte, de volta para casa, no primeiro dia. E de novo, no dia seguinte, para o internamento.



Conteúdo das fichas médicas mostram o descaso de atendentes/enfermeiros/médicos/administração com o paciente/cidadão em emergência médica. Mesmo com a identidade em mãos o nome do paciente é escrito errado, no mesmo campo, em três dos sobrenomes.



Sistema, na prática, não acompanha discurso, marketeado !



No Brasil temos a sensação de que velocidade da máquina, do sistema, não acompanha as contrapartidas necessárias a um modelo de desenvolvimento que traduza, reflita, a garantia de direitos como condição para querer, fazer, acontecer, implantar. A impunidade favorece a letargia e mascara realidades fantasiadas pela propaganda de quem diz que faz, sem fazer, de fato. “ O banco mais sustentável do mundo”. Como um banco, instituição financeira que tem o lucro fácil, rápido e especulativo, como mola propulsora do seu negócio, pode se auto intitular, se auto promover, de auto designar, via propaganda, altamente criativa/sedutora, que é o banco mais sustentável do mundo?. Onde está a lógica dessa informação quando relacionada ao novo paradigma da sustentabilidade como modo de vida harmonioso? Será se o banco divulgaria índices de inadimplência de seus cliente, cheques sem fundos, empréstimos a longuissimos prazos, impagáveis para a maior parte dos brasileiros, pobres, com renda C e sem condição de tratar as doenças sociais geradas entre devedores de banco?



Temos uma falsa impressão sobre o que é alardeado como desenvolvimento quando estamos nas filas de ônibus, corredores dos hospitais, cadeias superlotadas de pobres, índices elevados de analfabetismo funcional, desperdício de alimentos x fome, num mesmo ambiente, estradas esburacadas, escuras, inseguras, em tráfego constante, com altos índices de mortes por atropelamentos, alcoolismo e um sistema de impunidade inaceitável para a tão alardeada Democracia. Como aceitar que se faça parte de uma nova classe média brasileira medida não pelo valor da felicidade, da cidadania, da civilidade, da inclusão, do grau de educação/informação, mas pelo nome/ano do carro, tipos de eletros que se tem em casa? Não pelo que o filho aprendeu na faculdade para melhorar a vida social, no papel que tenha escolhido, mas pelo quanto tempo ele terá que esperar, depois de formado, para entrar no mercado, para ser explorado? Como aceitar um crescimento que atropela, visivelmente, o desenvolvimento? Como entender o discurso político governamental/empresarial que mede o tipo de vida do seu povo, não pelo que ele mostra ter absorvido, entendido e aplicado, do conhecimento acessado/disponibilizado, mas pelo que parece estar a fazer de conta pertencer a um status inventado, criado em cima de valores frágeis, descartáveis, insustentáveis, perversos, criminosos mesmo, e pior, impune e forte, como que inabalável, mas visivelmente erosivo?



CADEIAS DE PRODUÇÃO SUJAS, INSUSTENTÁVEIS.





Caminhão de empresa joga dejetos no mangue, polui, mata milhares de toneladas de peixes e deixa comunidades doentes, sem trabalho e sem assistência médica e trabalho. O Movimento AMA conferiu in loco.



Como se orgulhar de um sistema social montado sob projetos fictícios, inoperantes, de fachadas, planejados por uma política marketeira agressiva e ávida por visibilidade, quando sabemos, comprovamos cotidianamente, como jornalistas investigativos, que as informações não são exatamente o que diz e até se mostra, editada? Porque divulgar, socializar informações cujas estruturas não dão as contrapartidas necessárias ao que se diz que está sendo feito?Informações que, sem a infra necessária ao funcionamento de uma engrenagem que possa planejar o passo a passo, com alicerces profundos no enfretamento de desafios a curto, médio e longo, prazos, comprometem a vida cotidiana presente e futura ? Como fortalecer o altruísmo, a proatividade social de ponta a ponta, na necessária harmonia com o viver bem, se direitos mínimos, como o acesso a boas informações, não chegam a quem precisa, para transformar?



O Brasil recebe criticas externas sobre a falta de infraestrutura em setores básicos da engrenagem econômica que estar a desenhar, projetar mundo afora. São áreas de base, como formação de m/ao de obra especializadas, saúde e saneamento básicos, transporte público de massa que alivie uma malha viária que só aumenta a quantidade de automóveis nas ruas, já inchadas, travadas, estressadas, inseguras. Problemas que estão interdependentes e que por isso precisam de visão estratégica de políticas transversalizadas de fato, não no discurso. Problemas que estão relacionados, intricados a outros, como Segurança, Trabalho, Moradia Educação com o real objetivo de aprendizagem como instrumento de transformação social. Na Habitação, as cidades incham as periferias sem estruturas míninas de saneamento, responsável por uma cadeia complexa para a garantia da saúde como sinônimo de Vida, com conforto, segurança e inteligência na hora de construir. No país das matrizes limpas, naturais, estamos ainda na contramão da história mundial, quando vemos países como Alemanha, França e Estados Unidos e outros, querendo acabar com suas usinas nucleares e nós, brasileiros, desperdiçando e acabando com matrizes limpas como água, vento, sol e tudo o que deles resultam para a produção de energias alternativas, alinhadas com o mercado verde, de baixo impacto de carbono.



Divulga-se, propaga-se em discursos um modelo de produção agrícola que valorize e potencialize a agricultura familiar. Na prática esse discurso é paradoxal à realidade quando vemos ações desvinculadas dos grandes créditos do agronegócio, da monocultura de commodities que exporta tudo de bom e esquece-se da população interna, a que produz e cuida das riquezas da nossa cultura. Nas comunidades tradicionais, onde povos como quilombolas e indígenas cuidam da terra, eles plantam e colhem mandioca, por exemplo, mas vendem tudo o que de bom produzem dela e acabam comprando, sendo engolidos mesmo, pela cultura externa do consumo de salgadinhos cheios de corantes e produtos químicos, nocivos à saúde, quando poderiam estar comendo bolos, beijus, biscoitos, mingaus, cuscuz e mais de cem tipos de iguarias feitas a partir dessa rica e diversa planta/raiz chamada mandioca. São paradoxos assim que com certeza travam o desenvolvimento, em nome de um falso e aparente crescimento.



DESCASO COM A MEGA BIODIVERSIDADE - FOCO ÁGUA





Degradação de praias, matas, mangues, rios e mares em áreas de atuação da Petrobrás, uma das maiores empresas anunciantes do mundo. Insustentação que a publicidade não mostra.



A falta de investimentos, associada a uma cultura de desperdício, mau uso, corrupção, desvios e diversos outros desmandos administrativos, mostram cenários entravados na infraestrutura. Temos por exemplo, os cinco modais: rodoviário, aeroportuário, aquaviário, portuário e dutoviário, com problemas onde uma ponta dessa não engrenagem pode ser percebida com o número de acidentes provocados em todo o Brasil por falta de manutenção e segurança nas estradas, congestionadas de carros, carretas, caminhões, noite e dia, de norte a sul do Brasil. Problemas que afetam a mobilidade urbana e rural e toda uma dinâmica associada para cumprir prazos de entrega de mercadorias, combate ao desperdício, diminuição de gargalos logísticos que impedem o desenvolvimento sustentável no Brasil. Há problemas constantes no aeroportos, faltam linhas aéreas, contêineres, frequência de navios na navegação de cabotagem, vagões ferroviários, terminais marítimos, hidroviários e ferroviários, e conhecimento logístico, com gastos nos deslocamentos da produção, desperdício e perdas por danos e avarias nos transportes, além de dificuldades no uso da intermodalidade e da multimodalidade. A malha ferroviária existente ainda do século passado, com locomotivas de 25 anos a 25 km/hora, sofre das falhas no processo da privatização. Grandes obras ferroviárias estão com atrasos históricos nos cronogramas, inviabilizando sistemas mais eficientes, seguros e de baixo custo. Com os problemas de transportes existentes, o Brasil acaba desperdiçando bilhões de reais, são acidentes nas estradas em pontos conhecidos, roubos de carga, ineficiências operacionais e energéticas. Problemas de atraso de investimentos nas obras do Metrô e VLT- Veículos Leves sobre Trilhos, intensificam um modelo perverso de mobilidade ou falta dela, nos centros urbanos congestionados, parados, estressados, violentos, gerados pela dificuldade de deslocamento das pessoas. Transporte coletivo urbano de massa, com segurança e qualidade, não foi prioridade nesse modelo econômico. O acesso o sonho de ter um carro, até antes de uma casa, transformou o veiculo no grande vilão urbano, poluidor do ar, arma de matar gente e um dos principais problemas para de saúde pública, através dos altos índices de acidentes.



Transporte de massa caótico, desumano, insustentável







O impacto desse sistema é perverso, criminoso, antigo e não inteligente, quando não acompanha o desenvolvimento de um parque tecnológico à disposição no mercado que enfrenta a resistência de empresários que ainda calculam mal a relação entre custos e benefícios, com visão de longo prazo e alcance social. Práticas que deveriam ser substituídas para a construção de uma Economia Circular, de matrizes limpas, harmoniosas entre o lucro, bem estar, justiça, cidadania, inclusão. Apesar de diversos diagnósticos negativos sobre os problemas gerados pela falta de investimentos e eficiência na aplicação de recursos para a infraestrutura, o Brasil ainda não investe e muito menos, fiscaliza, o que é investido para o funcionamento de cadeias produtivas. No passado, a origem foi a crise fiscal e baixo crescimento da economia. Qual a justificativa hoje? Pra que melhor resposta a eleitores não exigentes do que as propagandas, volumosas, que governo e empresas veiculam, todos os dias, o dia todo, nas diversas, rápidas e caras, mídias ávidas por contas, em suas agencias ?



Transporte de cargas ineficiente, sucateado.



Perdas, sucateamento, demora no escoamento da produção coloca o Brasil como o país que mais desperdiça, no mundo. Desconexão entre o que e como trabalha para sustentar seu povo, trabalhador.



Nesse cenário é paradoxal informações sobre diminuição de pobreza, ascensão da classe C ao mercado de consumo, crescimento da renda, expansão de fronteiras econômicas através de commodities, onde o Brasil exporta matéria prima que depois é reintroduzida no mercado interno através da massiva comercialização de produtos chineses, onde a qualidade é duvidosa e tem matriz de produção com histórico de exploração de mão de obra e impacto socioambiental, com gargalos logísticos complicados. È esse modelo, que exporta commodies como soja, aço, petróleo, e importa “lixo em forma de plástico, comidas artificiais, e milhares de produtos, inúteis, da chamada cultura do 1,99? Seria sustentável, em que, essa prática de economia que leva o melhor, e barato, e compra o pior, e caro? Onde está o “sustentável”, tão propalado?



Como continuar um modelo onde a dignidade humana é jogada fora, todos os dias, quando não há planejamento para as gerações. Moradia é só um, dos direitos básicos. desrespeitados.



A Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 aparecem, agora, como grandes marcos históricos para a mudança dessa política em infraestrutura. O cenário de mal uso, corrupção, favorecimentos, e mesmo falta de planejamento e até, exploração de mão de obra e falta de garantia de direitos mínimos para trabalhadores em greve, como os das obras do novo Maracanã, no Rio de Janeiro, sinalizam que problemas históricos ainda estão longe de soluções civilizadas. Especialistas reforçam a tese de que mesmo na ausência desses dois grandes eventos, o Brasil precisaria investir bilhões de reais apenas para atender ao atual ritmo de crescimento da economia e dos investimentos.



Como sétima economia mundial e entre os 20 maiores exportadores mundiais o Brasil parece não olhar para dentro, para o seu povo, para problemas que não combinam com esse perfil falsamente alardeado lá fora. As dificuldades encontradas para o desenvolvimento sustentável estão relacionadas, travadas, a modelos de crescimento à qualquer custo, com entraves internos que se repetem, sem solução, burocracia excessiva, tecnologias de alto carbono, educação de faz de conta, má formação de mão de obra, carencia de técnicos, engenheiros, médicos professores e outros profissionais capazes de criar inovação e agregar valores a produtos e serviços na formação de cadeias produtivas harmoniosas, limpas, sustentáveis, de fato.



Desde os anos 90, inicio do ECA, que o Brasil intensificou as alianças com instituições internacionais para combate ao trabalho escravo e a realidade não muda, até piora em alguns lugares do norte/nordeste. Como são gastos os volumosos recursos? Porque as crianças continuam trabalhando? O nó social, desestruturação familiar, continua fora da pauta da sustentabilidade?

Transversalidade da Informação como instrumento de Comunicação Sustentável



Por: Liliana Peixinho *


Cientistas sociais, antropólogos, jornalistas, advogados, ministério público, ONGs, instituições governamentais, fundações, institutos, associações e um engendrado sistema de comunicação e política, são articulados, mobilizados, pautados, brifados, sugestionados, para proteger a megabiodiversidade brasileira e reconhecê-la como um bem comum global a ser incorporada às políticas públicas com ações econômicas revertidas em benefício coletivo do qual não se pode prescindir. Nessa ótica, o que de fato vem sendo feito, resgatado, preservado, valorizado, registrado, sistematizado? Qual o papel da mídia, do jornalismo, do repórter, do editor, do fotógrafo, do veículo, das instituições de ensino e pesquisa, do governo, das empresas, diante da exploração de protagonismos socioambientais na valorização/preservação do capital cultural brasileiro/nordestino?

De que forma a comunidade científica, pesquisadores, financiadores, apoiadores, promotores de eventos, palestras, oficinas, debates, seminários, exposições, congressos, encontros, conferencias, publicações diversas, em redes, com tecnologias cada dia mais rápidas, valoriza, pauta, denuncia, promove, o atual protagonismo socioambiental observado em comunidades tradicionais indígenas, quilombolas, artesãos, fundos de pasto, populações ribeirinhas, extrativistas, pescadores artesanais, agricultores familiares, dentre outras, pelo interior do Brasil/Nordeste adentro?

O “Acordo para o Desenvolvimento Sustentável” encaminhado em outubro de 2011, à Comissão Nacional que organiza a Rio+20, e assinado por dezenas de megarepresentações empresariais e socioambientais brasileiras, apresenta desafios de contexto com ênfase na promoção de transformações no padrão de produção e consumo. Leva em conta, para isso, a necessidade de investimentos na transição para uma “economia verde” capaz de suportar o crescimento econômico com sustentabilidade socioambiental. Aponta diretrizes das agendas nacionais para o desenvolvimento sustentável, condicionadas a incentivos de financiamento, sistema de crédito e fiscal e ambiente regulatório favorável para e essa transição para a “economia verde”. Desenha, também, um cenário com estrutura produtiva menos intensiva em recursos naturais não renováveis, com baixa externalidade negativa, eficiência e promoção na cultura dos Rs com reutilização, reciclagem e redução no uso de matérias primas.

Ações conjuntas, que, transversalizadas, poderiam/deveriam criar um novo padrão de produção e consumo, com Cadeias Produtivas Harmoniosas de ponta a ponta. O envolvimento sério, desses diversos atores, em gestões de responsabilidade socioambiental pode representar um salto histórico no atual modelo econômico - excludente, sujo, impactante e desumano. Expressões como “Economia Verde e Sustentabilidade”, se desgastam diante do desequilíbrio entre produção, consumo e preservação.

No novo desafio, garantir justiça social com fortalecimento das bases financeiras de sistemas de investimentos e de proteção social, devem passar por compromisso real, cotidiano. O discurso tem sido mais forte que a prática, onde a realidade é perversa, predadora, apressada e insensível à garantia da Vida em suas cadeias complexas. É nesse ambiente que estamos aqui, nesse trabalho de pesquisa, a questionar, aprofundar, debater, qual o papel da Mídia , da informação, do jornalismo, da Ciência e Tecnologia, como instrumentos de poder e transformação/criação de paradigmas, comportamentos, hábitos, para a substituição do atual modelo econômico?



Liliana Peixinho* -Jornalista, ativista, pósgraduada em Mídia e Meio Ambiente, pósgraduanda Jornalismo Científico e Tecnológico. Projeto para mestrado: “Transversalidade da Informação como instrumento de Comunicação Sustentável”. Fundadora dos Movimentos Livres AMA/RAMA. Moderadora Rebia Nordeste/Bahia. Colaboradora de diversos sites, blogs, agencias e redes em Comunicação e Sustentabilidade. lilianapeixinho@gmail.com

www.amigodomeioambiente.com.br

domingo, 16 de outubro de 2011

Marketing verde, realidade insustentável e papel da Ciencia




Por:  Liliana Peixinho *                     Como jornalista ativista desenvolve campanhas Desperdicio Zero

De que maneira a Comunicação pode contribuir, ou não, com a sustentabilidade? A informação veiculada e acessada, filtrada, pode ajudar na mudança de comportamento? Como isso pode acontecer, de fato? Se formos verificar o volume de investimentos que governo e empresas realizam, para propagar programas e produtos, podemos supor que as contrapartidas em visibilidade, credibilidade e por conseqüência, consumo, apresentam retornos que satisfazem bem os interesses de uma das partes da cadeia, os investidores. Mas, e o consumidor, esta satisfeito? E a matriz de produção, tem sido preservada, cuidada?

Se a Comunicação como grande área do jornalismo, publicidade, relações públicas, assessoria de imprensa, redes sociais e outras, que aparecem no cenário do avanço de novas tecnologias, tem peso relevante nas demandas diversas do cotidiano qual o modelo de Ciência que queremos, precisamos para a pautas permanentes como a defesa e promoção de direitos, manejo sustentável dos recursos naturais, manejo de resíduos, incentivo, apoio e promoção ao uso de energias renováveis, limpas, redução do risco de desastres, preparação e adaptação às mudanças climáticas.

É objetivo desse artigo despertar a atenção sobre forma, velocidade, conteúdos e resultados de comportamentos construídos pela mídia, através da propagação massiva de conteúdos, sob o olhar da sustentabilidade. Essa pesquisa é reforçada por depoimentos de especialistas e jornalistas sobre o cotidiano brasileiro, mostrando quão distante anda o discurso, generalizado, da prática. Onde a garantia da Vida se revela frágil quando observamos o caos em setores importantes como saúde, educação, transportes, moradia, emprego. Problemas sentidos de perto por quem mais o governo diz estar dando atenção: as classes média e pobre.

Lobby invisível

Quando analisamos dados como o do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), ao revelar que os dois por cento mais ricos dos adultos do mundo possuem mais do que a metade da riqueza familiar global, enquanto que os 50 por cento mais pobres dos adultos possuem apenas um por cento e constatamos que os ricos foram os que mais se beneficiaram com o crescimento econômico global vemos que em termos gerais, as pessoas pobres não conseguiram se incluir, ao contrário pioraram sua qualidade de vida já que grande parte dos danos ambientais causados pelos seres humanos é causada para satisfazer o consumo das pessoas ricas. E esse modelo de consumo, de distribuição e acesso ao que está sendo produzindo no mundo, no Brasil, que está em questionamento. São esses recortes sociais de insatisfação que nos mostra uma relação indireta com o meio ambiente e, assim, raramente vêem os danos que estão causando. Que mudanças de comportamento observamos nesse modelo de desenvolvimento? Vejamos: a classe rica, a que detém todos os poderes, de informação, de recursos, de acesso, de articulação, de mobilização, sabe o valor, por exemplo, dos produtos orgânicos, para a saúde. Quem produz orgânico sem apoio nenhum são os pequenos agricultores familiares, que nem acesso a recursos de investimentos via bancos ou agencias de desenvolvimento, conseguem garantir para suas micros safras. Esse povo viaja léguas para ir até as feirinhas da cidade mais próxima para vender, aliás, entregar, quase de graça, produtos que consumiram suor e sangue, meses a fio, sem água, sem energia, a preços que não cobrem as mínimas necessidades de uma cesta básica. Eles vendem, por exemplo, tapioca e beiju, para comprar bolachas quimicamente coloridas, e ai qualquer lógica de autosustentação se esvai pois a cadeia produtiva sustentável é quebrada quando exploramos a mão de obra que “dá duro”, “pega forte no batente”, esquenta os miolos no sol quente “ durante a “lida” nas roças nordestinas de mandioca. Portanto, a classe alta provavelmente continuará com o seu alto consumo e as classes baixas trabalhando duro para alimentá-los com o que há de melhor, na segurança alimentar, no artesanato, nos paradisíacos roteiros turísticos. Riquezas biodiversas que a comunidade cuida como pode e o turista, vem, suja e degrada sob o discurso da ilusão usado na propagada da geração de emprego e renda, bordão mais utilizado pelo lobby invisível entre governo e empresas.

Vida frágil

Entre especialistas em comunicação circula informações sobre a velocidade da propagação do conceito sustentabilidade e a necessidade de entender melhor o sentido profundo da expressão, usada massivamente sem a devida interseção harmônica nas escalas de produção. Mais do que significado, uma frase vale por seu efeito estético, moderno, linkado com uma realidade que insiste resistir aos desafios de mudanças de comportamento para a sustentação de sistemas fragilizados pela ganância, lucro fácil e rápido, desperdício de tempo e recursos, em nome de uma Vida frágil e ignorada. Mesmo depois que a Ciência propagou ao mundo os problemas com o clima, e esses dados vem sendo divulgados desde os anos 70, a preocupação com as conseqüências geradas por essas bruscas transformações na Vida, não vemos ainda, mudanças de comportamento para essas adaptações discutidas entre os cientistas e pela mídia como uma questão de importância global, empresários, bancos, instituições de ensino, agricultores comunitários, governos em âmbito nacional e internacional parecem estar linkados, mas de forma desconexa, paradoxal, onde discurso e prática estão bem distantes da realidade.

Apesar do apelo ideológico difundido massivamente, com reforço diário do discurso da sustentabilidade, o conceito parece estar distante de práticas, ações, gestões, comportamentos, que levem equilíbrio, harmonia, entre o que, como, e quanto se produz, na cadeia das atividades econômicas. Nesse contexto, como a Comunicação, o jornalismo, a publicidade, as redes sociais, as listas de discussões, os grupos virtuais, blogs, sites, entre outros, podem contribuir com informações, transversalizadas, contextualizadas historicosocialmente, para a construção de uma nova mentalidade, um novo jeito de pensar, fazer, se comportar, agir, mudar, no que tem se mostrado, demandado, como necessário e urgente?

Discurso desconectado

De um lado vemos que os avanços da Ciência no prolongamento da Vida humana estão desconectados com a mesma fragilidade que essa vida se mostra em ambientes criminosamente impactados por essa mesma ação humana. Esse paradoxo entre as descobertas científicas e a preservação da Vida, num planeta que ainda estamos a conhecer, parece desconsiderar o tempo como o grande protagonista da História, que é determinada por ele. O homem pode viver 100, 110 ou mais anos. Ao mesmo tempo e no mesmo lugar, crianças continuam nascendo sem prevenção à saúde para garantir o início da vida. Faltam direitos simples, mínimos, como o de poder dar o primeiro suspiro numa maternidade com as mínimas condições profiláticas para isso.

Estamos bombardeados de propagandas sobre produtos que causam obesidade, problemas cardíacos, diabetes, câncer e um sem número de doenças, diretas ou indiretamente relacionadas ao que consumimos. E não temos proteção para atendimentos médico, psicológico ou jurídico, necessários, decorrentes de comportamento construídos por uma mídia que parece focar apenas na sedução para a compra, desconectada com os resultados gerados pelo comportamento que a mensagem produziu no espectador, leitor, internauta, ouvinte, dentro ou fora de casa.

A televisão, por exemplo, entrou no mercado, nas lares, com força e poder para ditar comportamentos desproporcionais ao poder aquisitivo dessas famílias que se sentam, absortas, em frente a telinha. Vemos agora esse poder sendo dividido, compartilhado, distribuído para as redes sociais, onde esse mesmo poder da mídia veio ainda com mais força, com velocidade ainda maior, para transpor o tempo, agora imediato, real. A mesma competência que esteia o discurso da mídia verde vazia deve ser buscada com a inteligência exigida pela urgência que estar a querer a Vida, harmoniosa e sem pressa, como merecemos ser.

Essa mídia veloz em estimular o consumo, pelo consumo, vem empurrando a Vida para uma correria estressante onde por exemplo, comprar carro, para ficar preso em engarrafamentos, nas rodovias e centros urbanos, pagar até 15 reais de estacionamento, e correr todos os riscos por falta de seguro, parece ser mais importante do que se alimentar bem, como cultura de prevenção e saúde. Acordar cedo para trabalhar fora de casa, para pagar uma babá, que também deixou o filho em casa para ir trabalhar, alimenta cadeias de vida insustentáveis, famílias desestruturadas, ambientes de risco tosco. Se formos analisar o ciclo perverso sobre o trabalho das mães babás dos filhos dos outros, por exemplo, o custo social desse comportamento pode ser exemplo de diversos outros ciclos da vida em via crucis.

Jornalismo e investigação

E dever da Comunicação estar atenta as condições sociais para garantia da Vida? Se for e sabemos que é, então não podemos fazer de conta que não vemos empresas propagando-se sustentável, sem ser. Ao usar trabalho escravo, impactar o ambiente e não ter compromisso em cuidar, preservar, garantir condições para futuras gerações, não é sustentável. E, como disse o colega Andre Trigueiro, nós jornalistas, temos obrigação em dizer e mostrar porque projetos ditos sustentáveis, não o são, de fato. Claro que isso dá trabalho, precisa de investigação, coragem, e uma dose de ética que o mercado publicitário, e mesmo jornalístico, não parece estar interessado. Ter jornalistas que façam essa diferença nas redações e agora, em blogs, mídias e redes sociais, parece ser o caminho para aqueles que querem e acreditam no fazer como compromisso de mudanças.

Apesar da visibilidade midiática e da evolução do conceito: desenvolvimento sustentável, a realidade cotidiana demonstra, nos faz ver, perceber, sentir, registrar, que ações, de fato, sustentáveis, são difíceis de comprovar, diante de realidades diárias sobre a natureza humana e ambiental. Essas faces do ambiente estão degradadas, violentadas, exploradas, impactadas. A sustentabilidade tem sido ênfase dos discursos, peças publicitárias, propagandas, falas de governo, empresas e ONGs. De forma competente e criativa percebemos o apoderamento do termo para surfar na onda do marketing verde vazio.

Quando alguém, um governante, um empresário, um representante de um instituto, ONGs, associação, diz que faz um programa dessa ou daquela maneira e não o faz, de fato, como anuncia, qual deve ser o comportamento da mídia?. O corporativismo, com certeza, é outro elemento dificultador. O medo de perder emprego, contrariar interesses, mais forte ainda. O compromisso com os efeitos da informação não parece ser prioridade em agendas controladas pela política financeira. E, mesmo nas bancas acadêmicas o tempo e sempre pouco para aprofundar o debate.

A Carta da Terra diz que “devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura de paz. E, que para chegar a esse propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações”. Nesse contexto, é imperativo reforçarmos o saber como instrumento de construção, impulsão, para qualquer modelo, jeito de viver, que reforce a condição humana como frágil, limitada, diante do poder da Natureza, cujas facetas, climáticas, por exemplo, a própria Ciência ainda ignora, desconhece?

Ciência e Sustentação

Qual o modelo de gestão da Ciência para problemas revelados pela própria Ciência sobre a necessidade humana de adaptar-se? Conforme a própria Ciência, para se realizar ações de adaptação é necessário financiamento e transferência de tecnologia para ajudar as comunidades pobres a se adaptarem aos impactos inevitáveis da mudança climática. No âmbito local, isto pode consistir em ajudar as pessoas com poder na comunidade, tais como funcionários ou agências locais, a se conscientizarem sobre o que está acontecendo e incentivá-las a agir, de maneira que as comunidades possam se adaptar às mudanças climáticas; muitas chuvas, secas prolongadas, incêndios florestais, entre outras, para se desenvolver de maneira mais sustentável. Mas isso não ocorre. As vitimas nordestinas das ultimas enchetes estão abandonadas, sem casas, levadas pelas furiosas enxurradas. No âmbito nacional, o trabalho de defesa e promoção de direitos poderia consistir em pedir aos governos para que obtenham acesso ao financiamento e à transferência de tecnologia necessária ou em procurar apoiar ou influenciar os Planos de Ação Nacionais de Adaptação (NAPAs). Isso até é acionado, mas o recurso não chega na ponta da cadeia de produção. Fica no meio do caminho ou na ponta inicial.

Outra ação seria a mitigadora, ou seja, feito o estrado, vamos agora mitigar, reduzir as emissões de gases de efeito estufa para um nível global “seguro”. Os países ricos são os que devem fazer a maior parte das reduções, enquanto que os países pobres devem obter acesso a financiamento e tecnologia para se desenvolverem de maneira sustentável, como, por exemplo, recebendo incentivos para proteger suas florestas. Há quem defenda, por exemplo, que na comunidade, em âmbito local, o trabalho de defesa e promoção de direitos poderia consistir em informar as autoridades locais sobre como colaborar com os processos nacionais e educá-las sobre possíveis opções de mitigação, tais como a utilização de energia renovável. Em âmbito nacional, o trabalho de defesa e promoção de direitos poderia consistir em pedir aos governos acesso ao financiamento e à tecnologia necessária para ajudar as comunidades a se desenvolverem de forma mais sustentável. E o jornalismo investigativo, comprometido, ativismo jornalístico ambiental vai e campo e observa, constata que isso não acontece, de fato, acontece na propaganda, nos relatórios, nas falas, nos discursos, seminários, congressos, relatórios e tudo o que acaba fortalecendo a insustentação da vida em ambientes pobres, carentes de atenção e seriedade com os recursos captados e não alocados.

E, como a vida continua pautada no consumo, seja de idéias, fazeres e experiências, necessário e sensato, parece ser, adotar políticas, práticas, comportamentos, que alimentem a construção de cadeias de suprimentos onde, fornecedores, distribuidores, varejistas e consumidor final, estejam em harmonia, em sintonia, com as adaptações que o planeta, o ambiente, rural ou urbano, estar a nos exigir, para a garantia da Vida, em suas diversas formas.

Liliana Peixinho* - Jornalista, ativista, Fundadora dos Movimentos Livres AMA – Amigos do Meio Ambiente e RAMA – Rede de Articulação e Mobilização Ambiental. Especializada em Mídia e RSA. MBA em Turismo e Hotelaria. Posgraduanda em Jornalismo Científico e Tecnológico - UFBA Objeto de pesquisa para o Projeto de mestrado “Mídia, transversalidade na informação e sustentabilidade” . lilianapeixinho@gmail.com

sábado, 8 de outubro de 2011

Marketing verde x realidade insustentável


De que maneira a Comunicação pode contribuir, ou não, com a sustentabilidade? A informação veiculada e acessada, filtrada, pode ajudar na mudança de comportamento? Como isso pode acontecer, de fato? Se formos verificar o volume de investimentos que governo e empresas realizam, para propagar programas e produtos, podemos supor que as contrapartidas em visibilidade, credibilidade e por conseqüência, consumo, apresentam retornos que satisfazem bem os interesses de uma das partes da cadeia, os investidores. Mas, e o consumidor, esta satisfeito? E a matriz de produção, tem sido preservada, cuidada?

É objetivo desse artigo despertar a atenção sobre forma, velocidade, conteúdos e resultados de comportamentos construídos pela mídia, através da propagação massiva de conteúdos, sob o olhar da sustentabilidade. Essa pesquisa é reforçada por depoimentos de especialistas e jornalistas sobre o cotidiano brasileiro, mostrando quão distante anda o discurso, generalizado, da prática. Onde a garantia da Vida se revela frágil quando observamos o caos em setores importantes como saúde, educação, transportes, moradia, emprego. Problemas sentidos de perto por quem mais o governo diz estar dando atenção: as classes média e pobre.

Entre especialistas em comunicação circula informações sobre a velocidade da propagação do conceito sustentabilidade e a necessidade de entender melhor o sentido profundo da expressão, usada massivamente sem a devida interseção harmônica nas escalas de produção. Mais do que significado, uma frase vale por seu efeito estético, moderno, linkado com uma realidade que insiste resistir aos desafios de mudanças de comportamento para a sustentação de sistemas fragilizados pela ganância, lucro fácil e rápido, desperdício de tempo e recursos, em nome de uma Vida frágil e ignorada.

Apesar do apelo ideológico difundido massivamente, com reforço diário do discurso da sustentabilidade, o conceito parece estar distante de práticas, ações, gestões, comportamentos, que levem equilibrio, harmonia, entre o que, como, e quanto se produz, na cadeia das atividades econômicas. Nesse contexto, como a Comunicação, o jornalismo, a publicidade, as redes sociais, as listas de discussões, os grupos virtuais, blogs, sites, entre outros, podem contribuir com informações, transversalizadas, contextualizadas historicosocialmente, para a construção de uma nova mentalidade, um novo jeito de pensar, fazer, se comportar, agir, mudar, no que tem se mostrado, demandado, como necessário e urgente?

De um lado vemos que os avanços da Ciência no prolongamento da Vida humana estão desconectados com a mesma fragilidade que essa vida se mostra em ambientes criminosamente impactados por essa mesma ação humana. Esse paradoxo entre as descobertas científicas e a preservação da Vida, num planeta que ainda estamos a conhecer, parece desconsiderar o tempo como o grande protagonista da História, que é determinada por ele. O homem pode viver 100, 110 ou mais, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, crianças que nascem, agora, não garantem o início da vida por falta de direitos simples, como poder dar o primeiro suspiro numa maternidade com as mínimas condições profiláticas para isso.

Estamos bombardeados de propagandas sobre produtos que causam obesidade, problemas cardíacos, diabetes, câncer e um sem número de doenças, diretas ou indiretamente relacionadas ao que consumimos. E não temos proteção para atendimentos médico, psicológico ou jurídico, necessários, decorrentes de comportamento construídos por uma mídia que parece focar apenas na sedução para a compra, desconectada com os resultados gerados pelo comportamento que a mensagem produziu no espectador, leitor, internauta, ouvinte, dentro ou fora de casa.

A televisão, por exemplo, entrou no mercado, nas lares, com força e poder para ditar comportamentos desproporcionais ao poder aquisitivo dessas famílias que se sentam, absortas, em frente a telinha. Vemos agora esse poder sendo dividido, compartilhado, distribuído para as redes sociais, onde esse mesmo poder da mídia veio ainda com mais força, com velocidade ainda maior, para transpor o tempo, agora imediato, real. A mesma competência que esteia o discurso da mídia verde vazia deve ser buscada com a inteligência exigida pela urgência que estar a querer a Vida, harmoniosa e sem pressa, como dever e merecemos ser.

Essa mídia apressada em estimular o consumo pelo consumo vem empurrando a Vida para uma correria para comprar carro para ficar preso em engarrafamentos, nas rodovias e centros urbanos. Acordar cedo para trabalhar fora de casa para pagar uma babá que também deixou o filho em casa para ir trabalhar, alimentando cadeias de vida insustentáveis. Se formos analisar o ciclo perverso sobre o trabalho das mães babás dos filhos dos outros, por exemplo, o custo social desse comportamento pode ser exemplo de diversos outros ciclos de via crucis da vida.

E dever da Comunicação estar atenta as condições sociais para garantia da Vida? Se for e sabemos que é, então não podemos fazer de conta que não vemos empresas propagando-se sustentável, sem ser, pois ao usar trabalho escravo, impactar o ambiente e não ter compromisso em cuidar, preservar, garantir condições para futuras gerações, não é sustentável. E, como disse o colega Andre Trigueiro, nós jornalistas, temos obrigação em dizer e mostrar porque projetos ditos sustentáveis, não o são, de fato. Claro que isso dá trabalho, precisa de investigação, coragem, e uma dose de ética que o mercado publicitário, e mesmo jornalístico, não parece estar interessado, em sua maior parte. Ter jornalistas que façam essa diferença nas redações e agora, nos blogs e mídias sociais, parece ser o caminho para aqueles que querem e acreditam no fazer como compromisso de mudanças.

Apesar da visibilidade midiática e da evolução do conceito: desenvolvimento sustentável, a realidade cotidiana demonstra, nos faz ver, perceber, sentir, registrar, que ações, de fato, sustentáveis, são difíceis de comprovar diante de realidades diárias sobre a natureza humana e ambiental. Essas faces do ambiente estão degradadas, violentadas, exploradas, impactadas. A sustentabilidade tem sido ênfase dos discursos, peças publicitárias, propagandas, falas de governo, empresas e ONGs. De forma competente e criativa percebemos o apoderamento do termo para surfar na onda do marketing verde vazio.

Quando alguém, um governante, um empresário, um representante de um instituto, ONGs, associação, diz que faz um programa dessa ou daquela maneira e não o faz, de fato, como anuncia, qual deve ser o comportamento da mídia?. O corporativismo, com certeza, é outro elemento dificultador. O medo de perder emprego, contrariar interesses, mais forte ainda. O compromisso com os efeitos da informação não parece ser prioridade na agenda, nem mesmo nos compromisso da academia.

A Carta da Terra diz que “devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura de paz. E, que para chegar a esse propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações”. Nesse contexto, é imperativo reforçarmos o saber como instrumento de construção, impulsão, para qualquer modelo, jeito de viver, que reforce a condição humana como frágil, limitada, diante do poder da Natureza, cujas facetas, climáticas, por exemplo, a própria Ciência ainda ignora, desconhece?

E, como a vida continua pautada no consumo, seja de idéias, fazeres e experiências, necessário e sensato, parece ser, adotar políticas, práticas, comportamentos, que alimentem a construção de cadeias de suprimentos onde, fornecedores, distribuidores, varejistas e consumidor final, estejam em harmonia, em sintonia, com as adaptações que o planeta, o ambiente, rural ou urbano, estar a nos exigir, para a garantia da Vida, em suas diversas formas.

Liliana Peixinho* - Jornalista, ativista, Fundadora dos Movimentos AMA – Amigos do Meio Ambiente e RAMA – Rede de Articulação e Mobilização Ambiental. Especialização em Mídia e RSA. MBA em Turismo e Hotelaria. Posgraduanda em Jornalismo Científico e Tecnológico - UFBA. lilianapeixinho@gmail.com